ARTE ESPELHADA

Eu tenho um problema com espelhos. E não é aquela coisa de se achar horrível diante dele. Essa fase ficou lá atrás. Felizmente aprendi com o tempo a curtir a própria embalagem e ser grata por ela.

Mas o meu negócio com espelhos é que não convivemos muito bem juntos no mesmo lugar. Sabe aqueles provadores de roupa que tem espelho frontal e lateral? Eu piro com aquilo, fico tontinha. Já tive que provar roupa de olhos fechados. No meu quarto também não pode ter espelhos, guarda-roupa com um daqueles nem pensar. Um excelente método de tortura que poderia ser aplicado em mim é o de me enfiar em um labirinto deles. Arrepia só de imaginar.

Por sorte, eu não guardo a mesma aversão ao tema em se tratando de obras de arte pictóricas. A história da arte nos brindou com exemplos extraordinários de virtuosismo em representações de reflexos. Quadros dentro dos próprios quadros. Para ficar tontinha. De paixão.

Alguns deliciosos exemplos. Sim, estou chovendo no molhado citando esses caras, eu sei disso. Quer saber? Prefiro me ensopar.

O Casal Arnolfini
Fonte da imagem: National Gallery
Jan Van Eyck
82 x 60 cm
1434
National Gallery
www.nationalgallery.org.uk

Para começar devemos agradecer muito Jan Van Eyck, porque ele aperfeiçoou a técnica de tinta a óleo, praticamente a inventou. Entra no site da National Gallery e usa o zoom no espelho do fundo. Pode ir lá, eu espero. 

E aí? Incrível não? O espelho dessa tela tem apenas 5,5 centímetros!

Essa obra é cheia de simbolismos (que podemos conversar em outro post) e tem uma paleta de cores incrível. O casal são dois italianos ricos de nome Giovanni e Giovana e a tela está representando o casamento deles. A cereja desse bolo todo está em cima do espelho, na inscrição: "Jan Van Eyck esteve aqui". Ele não só se retratou no espelho como se eternizou na parede do próprio quadro. Excepcional.


Las Meninas
Diego Rodriguez da Silva y Velásquez
318 x 276 cm - Óleo em tela
1656
Museu do Padro
Fonte da imagem: Museu do Prado

https://www.museodelprado.es/

A representação da família de Philip IV é uma das mais conhecidas e reproduzidas do mundo. Não à toa. São inúmeros os elementos que poderiam preencher uma semana inteira de aula. Um grande mestre literalmente em pleno movimento.



Bar em Folies-Bergère
Edouard Manet
96 x 130 cm
Óleo em tela
1882
Instituto Cortauld

Uma garçonete, um olhar vazio, um bar lotado. E a força de Manet. O reflexo do espelho nessa obra (o cliente em frente à ela, para ser mais específica) é alvo de bastante discussão dos críticos. Não se sabe se Manet deliberadamente quis "errar" no reflexo e confundir nosso olhar. No site do Instituto Cortauld é possível dar o zoom em alguns detalhes dessa que foi uma das últimas obras de peso dele e ler observações a respeito desses pequenos pedaços da obra. Errado ou não eu não sei, mas é lindo, me apaixona e isso basta.

Fonte da imagem: Web Gallery  Art
















Para se aprofundar no tema, uma boa opção pode ser ler o artigo do Prof.Dr.Carlos Alberto Ávila Santos, Espelhos e reflexos: usos e representações em obras artísticas.

E se apaixonar com muitos outros reflexos que outros grandes gênios nos deixou.

4 comentários:

  1. Adorei! E fui lá dar um zoom no Van Eyck...rsrs.. Impressionante. As meninas, nem falo nada, perfeito. E esse do Manet é incrível, mesmo. Amo muito tudo isso!

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    1. Tem vários outros exemplos, é muito gostoso de observar!

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    2. Tem vários outros exemplos, é muito gostoso de observar!

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    3. Tem vários outros exemplos, é muito gostoso de observar!

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